sábado, 13 de maio de 2017

O Pilatos que não lavou as mãos.

Eu antes ficava bravo com o cara... Mas agora eu tenho até pena.
Quem pode culpar Moro?
Imagina ser um juiz de primeira instância, com moderada competência jurídica (pelo menos é o que me dizem alguns amigos do Direito) e de repente receber nas mãos, caída do céu, a possibilidade de "julgar" uma figura como Lula.
Goste ou não de Lula, não há como não reconhecê-lo uma liderança sem precedentes neste país.
Um presidente que fez o que nenhum antecessor foi capaz.  Um mobilizador de incontestável carisma.  "O cara", como atestam até alguns "figurões" no exterior.
Quanta notoriedade este juiz pode angariar com um caso destes sob seus cuidados, ao passo que do contrário, ele ficaria nesta vidinha comum, em que pese o salário incomum, dependendo de um grande caso, um novo concurso ou a ajuda de alguém mais acima pra poder merecer algum destaque.
Da noite para o dia, ganhou manchetes, holofotes, seguidores, fãs... A "mosca azul" é implacável.  Ao "picar" alguém, ela modifica sua vítima para todo o sempre.
Então, uma vez Moro tendo decidido aproveitar a oportunidade, não dava mais pra voltar atrás.
Agora tem que fazer tudo como "manda o figurino".  Ou seja, sem decepcionar os "apoiadores da causa", os enchedores da bola.
Se julgasse Lula apenas do ponto de vista do "mais um", dentre tantos políticos a serem investigados, tudo passaria rápido, naturalmente. Sem Show.  Melhor então separar as coisas.  De um lado, Lula e de outro todo o resto dos políticos, acusados, delatados mas que não são interessantes.  Perto de Lula, são só nada, mesmo sendo bandidos de grande vulto.
Colocar Lula na praça, exibi-lo antes da fogueira, era o que esperava a mídia, os "governantes do mundo" e a falsa elite brasileira que sonham rifar e dissolver o fenômeno PT  desde que Lula assumiu em 2003.
Bom, alguns dizem que não é bem assim.  Que as coisas não foram parar nas mãos de Moro por acaso.  Mas eu não sei nada sobre os "boatos" de que ele colabora com a CIA, com os EUA, ou se trabalha para não sei mais quem.  Tudo o que sei é que nunca tinha ouvido falar nele até há pouco tempo.  Hoje, embora sinta apenas "pena" dele como comentei antes, o nome e foto do cara estão por toda parte.  Nos jornais, nas revistas, na TV, na rádio, na "boca do povo" e até em portas de banheiro.
Pra quem gosta de "se ver" o tempo todo é um "prato cheio".  Um banquete para narcisistas.
Para estes, não importa se falam bem ou mal.  O importante é que falem sobre.
E com relação ao processo, ou aos processos, para Moro e outros que estão orbitando em torno de seu "sucesso", não tem importância nenhuma se não houverem provas.  O que está em questão é que as delações sejam seletivamente organizadas, vazadas e editadas pela grande mídia, em especial por aquela que "já foi" algum dia, a mais "poderosa" de todas: o decadente Jornal Nacional.  O que importa é não sair mais do centro das atenções.  E de vez em quando, requentar alguma coisa.
Pena que são tão fracas as acusações contra Lula... São ridículas... inacreditáveis.
Os estrangeiros se riem ao ver que alguns delatados precisam se defender de milhões, enquanto Lula tem que explicar a hipotética posse de um triplex de classe média, ou um sítio de veraneio sobre os quais não há nada, nenhum bilhete sequer.
Só que Moro não liga.  Desde que haja uma fala qualquer, de um destes corruptos qualquer, que cite Lula, um parente, amigo, conhecido ou correligionário seu, faz-se um "auê" com ela.
Mas então, se penso tudo isso, o que me causa pena dele?
O que me causa dó é ver que alguém que poderia ter um futuro muito bonito pela frente, se deixar levar por esta correnteza aparentemente "sortuda", só que eivada de armadilhas.
Um dia, não muito longe, a história julgará este episódio de forma tão densa que não haverá mais como esta gente se desculpar. E ninguém mais virá a ser homônimo de Moro, pois basta ver como dificilmente alguém batiza o filho como Hitler, Judas, Nero, ou qualquer outro que a história tenha julgado como "algoz".
Pois é. Como falei em personagens conhecidos, vamos pensar em outra figura histórica, mas que ficou queimada.
Pilatos, um mero governador de provincia, entraria para a história apenas como um a mais dentre os diversos oficiais da Roma antiga.  Contudo, foi "agraciado" com a responsabilidade sobre o julgamento de Jesus.  Aquele carpinteiro que fez cegos verem, coxos andarem, leprosos serem limpos e mortos reviverem.
Pilatos teve suas palavras e gestos emoldurados pela "glória" momentânea e hoje é o grande escroque da cristandade. Ou seja, aquele que se apoderou de parte do prestígio de Cristo para se eternizar.
Mas a que custo?  Rogam os cristãos aos milhões, que o Filho de Deus "padeceu" sob o julgo do "vilão" Pôncio Pilatos.
Será que a mãe do Poncinho, tem hoje no além, vergonha ou orgulho dele, quando ouve os anjos apontando e cochichando entre si no Paraíso: "Eis ali a mãe do que lavou as mãos" e deixou o filho do Senhor morrer?
Se eu fosse Moro, também talvez tivesse aproveitado esta chance.  A de me tornar uma figura extremamente conhecida e pública, sem me preocupar "como".
Mas graças a Deus não sou.  E como eu mesmo, na verdade, defendo que o bonito seria se ele, ao receber esta oportunidade na profissão, tivesse encarado tudo como algo tão grandioso quanto governar esta nação e cuidar para que o processo fosse completamente isento, acusando apenas sob provas concretas, averiguadas e não fruto de falação de criminosos que desejam diminuir sua pena em delações contraditórias e inconsistentes.
Eu gostaria de ser conhecido como o justo, o jurista respeitável.
Gostasse ou não de mim a Globo ou o Kataguiri (sei lá se é assim que se escreve o nome desse aí), minha preocupação seria a verdade, a história, o compromisso.
Condenando o culpado, ou absolvendo o inocente, teria meu nome nos anais da história como o correto.
Não sobraria ninguém... Nem amigos do PSDB, nem adversários do PT. Culpados, iriam em cana independente de suas cores.  Inocentes, teriam a chance de limpar o nome, como convém aos injustiçados.
Como juiz com "j" maiúsculo, eu tomaria cuidado ao tirar fotos, ao frequentar estádios de futebol. Fugiria de entrevistas perigosas e me cercaria de isenção.  Romperia com alguns amigos sem crédito moral.  E enfim, depois de tudo, seria apontado nos livros do direito, como aquele que julgou poderosos e para tal seguiu os rigores da ritualística jurídica.
Por isso eu digo, quão lamentável é a pouca idade.  A falta de velhice.
Se para uns a oportunidade de brilhar de fato chega muito tarde ou nunca chega, para alguns chega cedo demais, o que é infinitamente pior.


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