sábado, 7 de abril de 2018

De que lado você está?

Eu não sei se faz muito tempo ou se já existiu ao longo da história brasileira uma liderança tão forte e tão querida por tanta gente como a de Lula.  Você pode até não gostar dele, mas não dá pra negar isso, né?
Sua eleição e posse já demonstravam esse grande apoio popular que começou na década de 70, nas suas primeiras lutas como sindicalista e depois, fundador de um partido de massas.
Mais tarde, sua reeleição, a eleição de sua substituta (meio que desconhecida por muitos) e a consequente reeleição de Dilma só fizeram confirmar o apreço das pessoas pela figura de Luiz Inácio da Silva.  Um fenômeno a ser amplamente discutido.
Mas agora, de uma maneira espantosa, nordestinos, nortistas, sulistas e gente do sudeste, centro oeste e até de fora do Brasil, surpreenderam ao se manifestarem emocionados contra a sua prisão e em prol do seu direito de concorrer às eleições de 2018.
Por toda parte, artistas renomados e anônimos, pobres, remediados e até alguns ricos, do campo e das cidades, cultos e iletrados, jovens e idosos e até crianças, saíram às ruas de todo o país e em horários diversos com palavras de ordem e pasmem, lágrimas nos olhos.
Se você não viu é porque a imprensa formal do Brasil fez questão de não mostrar direito, como aliás é de costume.  Mas aconteceu, viu?  Internet e redes sociais, serviram de testemunhas deste grande movimento em defesa do ex-presidente.
Óbvio, isso não queria dizer que impediriam o andamento da prisão.  Era pura paixão e carinho mesmo.  Esta união, solidariedade e comunhão com a figura pública do ex-sindicalista, não pode passar desapercebida, muito menos ser ignorada por quem quer que seja, simpatizante ou adversário.  E entrará para a história como algo inédito, pois ainda que figuras simpáticas ao povo tenham provocado certa comoção no passado, nada se compara ao que estamos vendo.
Afinal, somos um país sedento de heróis e líderes. E quando alguém aparece para cumprir este papel, tirá-lo do coração das pessoas, não é simples.
Mas claro... Não seria e não é mesmo palatável a todos a figura do metalúrgico que virou presidente.  Ninguém jamais foi unanimidade em parte alguma.  Esse milagre, ninguém ainda conseguiu.  Muito menos um homem feio, baixo, gordo, nordestino, sem formação acadêmica, com voz grave e rouca. Seu estereótipo sempre mexeu com a fúria de racistas, preconceituosos e "pomposos", que lhe viam numa imagem nada admirável de bate-pronto.
Só a convivência e sua retórica eram capazes de mudar opiniões assim.
Por outro lado, com facilidade, tornou-se o "representante" dos irmãos latino-americanos perante o mundo.  Sua inspiradora paixão pelo Brasil, levou-o a ser respeitado por reis, presidentes e líderes mundiais.  A tal ponto que o presidente da potência americana declarou de público: Este é o cara!
Para alguns poucos brasileiros, no entanto, uma piadinha aqui e ali, sempre produzidas com muito mal gosto, tentavam fazer emplacar o ranço elitista puxando os bordões do cachaceiro, analfabeto, grotesco que Lula nunca foi.
Talvez pudéssemos entender se tratar da confirmação da máxima cristã de que um profeta não faz milagres em sua própria casa.  Pois mesmo aqui, sempre houve uma boa divisão entre os prós e contras.  Bastava um deslize, uma foto com boné, lambuzado de graxa ou rindo muito para que a má imprensa tripudiasse apresentando-o como uma figura risível.
Sabe, eu também tenho críticas pesadas a Lula e ao seu governo.  Tenho críticas ao governo Dilma e ao próprio PT.  Tenho críticas aos seus principais aliados.
É que avalio que faltaram ações fundamentais para a ascensão da classe trabalhadora, para a libertação definitiva dos subservientes e inclusive, faltou o principal: a verdadeira distribuição de renda tão sonhada e propagada pelos idealizadores do projeto (povo no poder).
Não deu pra fazer tudo.  E como tantos outros esquerdistas me é complicado aceitar.
Culpa da política de coalizão que Lula abraçou e que é de difícil sustentação e justamente por isso, muita coisa não progrediu.  Muitos e dissonantes interesses foram envolvidos numa salada de siglas e caciques, que se aglomeraram à órbita do poder, arrebentando depois em mensalão e no final, configurando-se no balcão de negócios no qual se caracterizam as repúblicas em geral mundo afora.
Uma decepção pra muitos que acreditavam que com a chegada do PT no comando da nação, isso não aconteceria mais.  Ledo engano.  Só que eu acho que o governo não teria durado tanto e nem as pequenas conquistas teriam sido alcançadas se fosse diferente.
Mesmo assim considero que nunca tivemos, ao longo dos quinhentos e poucos anos da história desta nação, um governo tão importante.
Inclusivos, os anos de Lula e Dilma no comando promoveram o resgate de dívidas sociais seculares.  Negros e pobres, mulheres e trabalhadores de toda sorte, foram anexados às prioridades programáticas.  A tradicional dependência, de sertanejos e nordestinos, dos favores de coronéis e oligarcas diminuiu de forma indiscutível.  O Nordeste renasceu e se desenvolveu como nunca.  Os campos ferveram em produção agrícola.  Foram enfrentados problemas tidos por insolúveis, como a seca e escassez de alimentos.
No geral, programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, ProUni, Luz para Todos, Brasil Alfabetizado, Enem e tantos outros, tiravam da linha de risco milhões de famílias ano após ano.
Claro.  Sempre aparecia um imbecil para afirmar que "seu dinheiro" estava servindo de esmola para pobres.  Mas este bobão nunca percebeu que ao dar dignidade e sobrevida a população mais carente, até seu pequeno negócio era fortalecido pelo consumo de pessoas antes excluídas da vida econômica.  Além disso, manter-se em cadastros destes programas exigia das pessoas atitudes de contrapartida como manutenção dos filhos na escola, carteira de vacinação atualizada e outras providencias que resultaram na redução de endemias, mortalidade e analfabetismo, dentre outros males.
Minoração ou campanhas de redução de impostos, ainda que passageiras, em alguns setores, aumentaram o poder de compra.  Vendeu-se mais carros, eletrodomésticos, viagens e outros bens de consumo, fazendo girar a roda da economia, que permitiu suportarmos a crise que assolou os Estados Unidos e Europa nos final da primeira década deste século.
Pessoas que jamais imaginaram tiveram acesso a faculdades, aviões, restaurantes e cabeleireiros.
E daria para enumerar muita coisa boa em uma lista que vai do um PIB em gráfico crescente ao desemprego decrescendo a cada mês.  Nossa saída do mapa da fome nas estatísticas globais e o fim da dívida de anos com o FMI.  Cofres abarrotados com nossas reservas transbordando.
Nada disso afirmo por conta própria ou devaneio.  Todos os números são facilmente comprováveis nos órgãos competentes.  Para quem quiser é só clicar e confirmar.
Só que se coisas boas aconteceram, tantas ruins também fizeram parte deste álbum de fotografias.  E essas imagens destorcidas custaram caro.  Foram a alavanca de que os inimigos precisavam.
Esquemas antigos de corrupção se mantiveram nas entranhas do poder e dentre os protagonistas do governo, pessoas de extremo mal caráter se aproveitaram do "melado", se lambuzando até as golas.  Coisa feia e digna de punição exemplar.  Traidores da pátria, do próprio governo e dos partidos a que pertenciam.
O que ninguém pode determinar é se tudo isso tinha ou não o conhecimento dos chefes do governo.  Mas o fato é que, contra Lula e Dilma, pouco ou quase nada se pode afirmar.  No caso do próprio Lula, por exemplo, uma única condenação lhe caiu.  Foi de ter "ganhado" um apartamento no litoral de São Paulo como pagamento de propina.  Embora não exista escritura, transferência ou chaves que possam comprovar a posse deste tal presente, bastou uma visita ao local com sua esposa e algumas delações de criminosos presos para se garantir sua condenação, um julgamento de velocidade impar e a consumação da prisão em segunda instância, contradizendo preceitos jurídicos incontestes.
Estas ações destacadas nas lentes das TVs e fotógrafos contra Lula descrevem, por sua inconsistência e desigualdade um episódio dissonante de outros tantos em que criminosos foram presos e soltos, não presos ou tiveram seus processos prescritos por falta de andamento.  Alguns desses acusados passaram na cadeia menos de 24 horas, outros foram conduzidos a prisão domiciliar.  Mesmo com extratos bancários, fotos, malas e gravações comprometedoras, muitos nem sequer responderam.
Nenhum petista, no entanto, foi poupado o que levou defensores do partido do ex-presidente e órgãos da imprensa internacional e juristas do mundo todo a defenderem a tese da perseguição.
Afinal, mesmo as ações que caminharam contra outros políticos foram processos nada parecidos com a contundência e gana com que o MP e o juiz do Paraná empregaram contra Lula e seus aliados.
Piores, em grau absurdo, que o tal triplex do Guarujá e as ditas pedaladas de Dilma, acusações graves contra o presidente Temer foram arquivadas pelo Congresso mais de uma vez com holofotes determinando a troca de favores empregada junto a Deputados e Senadores.  Com tudo isso, dá sim pra se pensar em uma justiça seletiva?
Como seletiva parece ser a indignação de alguns patriotas, cuja limpeza moral e ética, não parecem ser a tônica de protestos, pois do contrário, não teriam silenciado um só dia enquanto tais aberrações não fossem duramente punidas.  Mas de repente, todos sumiram silentes.  Bastou tirar Dilma da presidência e acusar Lula.  Seria esse o objetivo de tudo?
Mas e o impeachment?  Se não havia crimes diretos dos governantes, como Dilma perdeu a presidência?
Pois é.  Tudo começou lá, em 2014, quando após os adversários terem usado de tudo (mídia, dinheiro aos borbotões, manifestações estudantis em prol do passe livre nas quais se infiltraram) ainda assim perderam as eleições.  Foi demais pra eles.  Uma vergonha insuportável.
"Vamos sangrar a nação" - bradaram alguns tucanos de nobre plumagem.  "Vamos paralisar o Congresso.  Ninguém governa sem apoio no Congresso", afirmou declaradamente o derrotado Aécio Neves do PSDB.  E assim foi.
Unindo-se ao vice-presidente Temer, que seria o beneficiário imediato de um possível impeachment, estes mal perdedores procuraram "pelo em ovo" e acharam alguns lançamentos fiscais denominados de "pedaladas" que foram suficientes para iniciar um processo.  Um parênteses aqui.  Estranho foi que, misteriosamente, as pedaladas deixaram de ser consideradas crime logo após Dilma ser afastada.
Tudo foi rápido.  Um conhecido corrupto, ocupava o cargo de presidente da Câmara Federal.  Hoje talvez preso e digo talvez, pois não se fala nele e nem o mostram atrás das grades, Cunha acelerou o processo e daí tudo caminhou como numa esteira.
Em que pese haverem já naquela época sinais claros de que interesses estrangeiros rondavam por aqui atrás do nosso Pré-Sal ( grande descoberta do governo Lula), para tomarem de assalto a nação, os artífices do Golpe, em conluio com o substituto da presidenta, num projeto diabólico, obedientes e gananciosos,  teriam facilitado tudo.  Garantiram a dilaceração da imagem da Petrobrás que foi então  desacreditada e barateada para enfim ser entregue a tais poderes ocultos, na troca evidente de ajuda para ascenderem ao comando da nação e porem fim, definitivo, a dinastia petista.
Se você acha isso teoria da conspiração, vale lembrar que tantas vezes a história já mostrou estes enredos, que afirmações do gênero ganham total pertinência.
Isso já é tão batido que até cidadãos do exterior gritavam em matérias e discursos inconformados com a "cegueira" da nação e pedindo para tomarmos cuidado para não reproduzirmos o que os indígenas fizeram com a chegada dos europeus.
Só pra confirmar as provas são várias.  Em pouco tempo no governo, Temer com total apoio, já tentou conceder a Amazônia, o aquífero Guarani está a venda, além de tantas outras riquezas e empresas pertencentes ao povo brasileiro já rifadas a confirmar as suspeitas de então.
Plano bem desenhado.  Só precisaram de legitimidade.  Bons estrategistas agiram.  Grande parte da nossa gente foi inflamada por algo que até agora não sabem o que, mas que sob a embalagem do fim da corrupção, lhes fizeram esquecer, por completo, dos anos brandos da era petista.  Outros, quem sabe por serem ainda jovens, e que não conheceram realidade fora desta era, foram levados a acreditar haver outra melhor.
Com a vaga ainda aberta, segue-se aqui o que é uma tendência mundial.  A extrema-direita desponta num discurso que agrada pelo moralismo, religiosidade e promessas de "faxina", agregando figuras de alguma simpatia popular que lhes dão certo respaldo e eco.  Pronto.
O resto ficou e está por conta das estruturas de apoio capitalista que fazem por si só, a engrenagem girar.  Parte da imprensa, parte do judiciário, do Congresso e de instituições burguesas como FIESP, associações comerciais etc. dão guarida a este discurso, lastreando as ações de combate seletivo e unilateral que culminaram com o fim trágico do cenário de um governo popular.
Reformas trabalhista e outras, que agradam setores salientes da sociedade, poem por terra anos de avanços e conquistas aos trabalhadores, deixando sossegada uma classe média que sequer fora beneficiada, iludida sim pelo seu desconhecimento de classe (pois se acreditam ricos ou a caminho de tal posição).
Num retrocesso sem precedentes, programas foram e estão sendo interrompidos (como se justiça estivesse sendo feita), escolas e universidades são sucateadas ou fechadas, em prol da ignorância ou da comercialização lucrativa do ensino, o que também ocorre, de modo igual, com a saúde pública.
Para alguns que restam lúcidos e estão vendo por trás das cortinas, Lula então poderia ser o antídoto a este declínio.  A esta derrocada da classe trabalhadora e pobre.  Mas dentre os erros dos governos petistas, talvez o maior fora não aproveitar-se enquanto lá para regulamentar a mídia, garantindo que ela realizasse seu trabalho de modo independente do que queriam seus donatários.
Deixando-a agir em paz, permitiu-se sua aplicação na instrumentalização da informação a lá Goebbels.  Como resultado, manipulação total dos corações e mentes.
Do mesmo DNA da propaganda que matava judeus fazendo o povo acreditar na higienização da raça alemã, surgiu a criminalização dos petistas e seus amigos como se fossem os únicos promotores das desgraças da nação.  E a tal medida foi o efeito que o ódio contra estes passou a ser "aceitável", pra não dizer, legítimo e uma nova nomenclatura se criou: petralhas.
Hoje, graças a esta maquinação e discurso constante, tem gente que, ainda que pobre ou pertencente a uma das minorias, comemora com churrasco e fogos de artifício a prisão do seu único representante de verdade até agora na história do país.  Claro, nem todos.
Com altos índices de aprovação e preferência eleitoral, Lula ganharia, brincando no primeiro turno, o que justamente torna imprescindível a seus algozes, seu combate, sua prisão, sua retirada de cena.
E se essa grande articulação consegue mobilizar, dominar e até prender, sem provas, um líder com tal séquito e currículo, o que ela não poderá fazer com pobres mortais, servidores públicos, professores ou pessoas como eu e você que manifestamos posição contrária?  Horrível pensar nisso nessa altura, né?
Pois é.  Prolonguei na reflexão pra tentar obter contrapontos, argumentos que divirjam desta minha defesa para, quem sabe, ser convencido enquanto pratico minha autocrítica sincera.  É pra isso esse instrumento, esse blog. Me ajudar na autocrítica.
Quero aprender a pensar diante de argumentos contrários e fortes.  Quero exercitar a dialética.  E só ouvindo os contrários posso sair da "alienação", de que me acusam oponentes, de sempre achar que estou do lado certo da história.
Será que alguém se habilita?

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