terça-feira, 10 de abril de 2018

Escola sem (partido) sentido.

Cheguei há pouco da Câmara Municipal de minha cidade.
Não posso me dizer decepcionado.  Conhecedor dos edis que a compõem me surpreenderia se o resultado fosse outro.
Depois de proporem e votarem favoravelmente ao absurdo projeto "escola sem partido", hoje foi dia de derrubarem o veto do prefeito a esta comprovada síntese da intolerância e visão turva.  Sem falar na inconstitucionalidade que representa este assunto ser discutido nos legislativos municipais.
Com a desculpa deslavada de que a escola faz a doutrinação das crianças, implantam, de um modo inacreditável, em algumas pessoas, a ideia de que o "negócio é bom".  O projeto é em favor das famílias.  Faça-me um favor.
Será que esta "gente de bem" está preocupada com a doutrinação dos filhos 24 horas por dia na internet à disposição com tudo o que há de bom e ruim?  Entendem que a TV aberta tem doutrinado a cabeça de milhões de pessoas gerações a fio? Aliás estamos pagando altíssimo preço por isso. Sim, pois se a discussão for doutrinação, vamos entender o que é doutrinação e ser coerentes naquilo que defendemos.
Mas não é isso não.  O caso é outro.  Como outra tem sido toda a questão defendida por moralistas e direitistas.
Alguém enfiou na cachola dos "defensores" desta causa que as escolas fazem a cabeça das crianças contra a religiosidade, em favor da homossexualidade, do partidarismo político e ideológico e sei lá mais o que.  Parece até que gostavam do tempo em que o governo militar imprimia nossas cartilhas a ensinar coisas como o "descobrimento", o heroísmo de Caxias etc.
Ao invés de estarem preocupados com a situação e qualidade do ensino, se a escola oferece boas acomodações, segurança e conforto adequado, merenda balanceada (sem desvios) e condições de higiene, lazer, integração, materiais e uniformes, estão preocupados que seus filhos sejam "manipulados".  Acreditem.  Esta molecada tem cabeça muito melhor que destes adultos.  Tenho certeza.  Até por isso os "idealizadores" do projeto o querem vigorando.  As novas gerações estão ficando espertas demais.  Já já os mandatários hão de perder o controle sobre as massas.  Já pensou?
Professor que não se cuide, isso sim.  Além de ganhar mal a vida inteira, apanhar nas praças a mando de governadores vigaristas, ser maltratado em sala de aula, ter que se arrebentar para conquistar a atenção dos alunos em classes cada vez mais ultrapassadas, agora se falarem qualquer coisa que alguém entenda ser "doutrinação" estarão fadados a processos.  E quem vai julgar o que é doutrinação? 
Tenha a santa paciência ter que ver isto em pleno século XXI. 
Enquanto o tempo avança, a mentalidade de alguns brasileiros retrocede a passos largos e com ela, de algum modo, nossas vidas.
Bom pra quem gosta de roupa e música de época.  Já estamos beirando ao século XVII.
Enquanto isso igrejas doutrinam fiéis todos os dias da semana.  E quando não o fazem nos salões espalhados por todos os bairros das cidades, o fazem livremente em canais de televisão próprios ou alugados com ótimas produções.  A mídia decide o que assistiremos nos noticiários e que tipo de música devemos gostar.  Qual o melhor cantor, ator, autor do ano.  Que roupas são mais adequadas e que marca de achocolatado é melhor.
Não querem escola sem partido.  Querem escola sem sentido.  Isso sim.



2 comentários:

  1. O problema nunca foi doutrinar, mas doutrinar fora dos padrões considerados corretos pela elite.

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  2. Carlos Alexandre, creio que a intenção não seja outra senao a de manter as cabecas dos jovens ocas, propícias para se incutir nelas uma falsa religiosidade, uma alienação necessária à captação de (adivinhem!!!): Votos!!!!

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